Accueil > Homem aumentado > Será irracional querer mais?

Será irracional querer mais?

Será irracional querer mais?

O transhumanismo é acusado de “querer sempre mais” … com ou sem razão?

Publicado em 30 Março 2017

O transhumanismo pretende aumentar o ser humano e ultrapassar os seus limites biológicos.

Uma das criticas recorrentes do transhumanismo é, portanto, a seguinte: os transhumanistas devem ser pessoas desagradáveis que “querem sempre mais”, incapazes de apreciar o que têm, perdidos numa fuga para a frente perpetua, e ao fim ao cabo, muito tristes.

Mas, como muitas vezes quando se fala de transhumanismo, estamos perante uma confusão semântica. Porque existe várias maneiras de “querer mais”.

Um exemplo simples: um individuo que corre todos os dias. O seu objetivo é progredir, melhorar a sua saúde e a sua resistência cardíaca. Existe duas maneiras de encarar a corrida:

  • Uma maneira serena e relaxada, onde se corre com prazer todos os dias, apreciando os progressos realizados todos os meses.
  • Uma maneira crispada e nervosa, onde estamos obcecados com o desempenho atlético, onde se mortifica de não se conseguir progredir suficientemente rápido e onde o prazer está ausente.

Nos dois casos, o objetivo é o mesmo: melhorar. Mas tanto pode ser encarado de uma forma serena e construtiva como pode ser encarado de uma forma negativa e compulsiva. É a mesma coisa para o “desejo de ser mais” que o transhumanismo reflete.

Será que se culpa um apaixonado de Arte e cultura de ler “demasiado”, de ser “demasiadamente” erudito? Claro que não! Ao invés, podemos “querer mais” de maneira mortífera, por exemplo querendo cada vez mais dinheiro, sem nunca apreciar a riqueza que já possuímos. Podemos viajar por paixão e vontade de descobrir o mundo… tal como podemos viajar para tentar fugir dos problemas.

“Querer mais” não é, portanto, mau por si só: tudo depende da maneira como queremos mais!

Podemos obviamente imaginar um transhumanismo patológico, onde o desejo de se aumentar é uma maneira de fugir de si próprio, de não enfrentar os seus problemas. É aquele que infelizmente é o mais vezes descrito pelos media. Mas, como em todos os outros domínios, também podemos imaginar um transhumanismo sereno e positivo.

Isto seria, por exemplo:

Desejar viver mais tempo, não porque se têm medo da morte, mas porque se gosta da vida. Encorajar a pesquisa nesse sentido, aceitando a eventualidade de morrer e apreciando cada dia que passa.

Desejar aumentar as suas capacidades cognitivas, não numa ótica de competição com outra pessoa, mas para ser mais, sentir mais, etc., em paralelo à aprendizagem e a erudição diárias.

Desejar estender as possibilidades (novos sentidos, mundos virtuais, controlo pelo pensamento…) da mesma forma que estendemos as nossas possibilidades com a aprendizagem de uma nova língua, de um novo instrumento de musica e de um novo domínio…

Este desejo não tem nada de mau por si, não mais do que qualquer outro desejo de melhoramento. Rejeitar todas as hipóteses de melhoramento seria pelo contrario muito triste!

Culto do esforço: não confundir tudo

Certas pessoas vão dizer que tais aumentos são criticáveis porque não tem por base o esforço. Podemos imaginar, por exemplo, uma pessoa com um implante neuronal e ficando mais inteligente sem fazer um esforço especial. Intuitivamente a gente se diz que é “mau”, que é, de certa forma, “batota”.

Uma reação assim é condicionada em parte pelo culto do esforço que nos foi ensinado desde a mais tenra idade, o famoso “no pain, no gain”. Se o sofrimento estiver ausente, qualquer “gain” é logo suspeito!

Mas tais aumentos não eliminam o esforço: continuamos sempre a fazer esforços todos os dias, ao nosso nível.

Podemos comparar isto à aprendizagem musical. Aprender a tocar violino exige esforços, qualquer que seja o violino. Mas em paralelo, não é proibido fabricar um violino de melhor qualidade! A experiência só poderá ser melhor. Se tivéssemos ficado pelos instrumentos rudimentares da pré-história, não teríamos a musica clássica, o rock, o jazz…

Assim, segundo esta analogia, os transhumanistas não querem eliminar a musica: eles querem pelo contrário melhorar os instrumentos!

Artigo original da autoria de Alexandre, publicado com o título “Est-il déraisonnable de vouloir plus ?


Comentários