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Somos humanos aumentados há séculos!

Louis Pasteur

E se o conceito de ser humano aumentado for muito mais antigo do que pensamos?

Publicado em 27 Março 2017

A ideia de um ser humano “aumentado” provoca medos em algumas pessoas, que afirmam que isto põe em causa a nossa identidade humana.

No entanto, a partir de que momento poderemos dizer que somos “aumentados”? Será que não seja desde já o caso hoje? Nem é preciso pensar nos últimos acessórios tecnológicos: isto já vem de muito longe na nossa história!

Podemos considerar que o transhumanismo começa com o primeiro homem pré-histórico que pegou num pau. Com este gesto elementar, ele criou uma prótese de braço que lhe permite caçar com mais eficiência. Ele criou depois uma prótese de pele, cobrindo-se de peles de animais lhe permitindo proteger-se do frio.

Inventando a escrita, guardando informações em tabuletas de argila (e mais tarde livros), o ser humano equipou-se de uma prótese de memória. Ele pode desta forma armazenar uma grande quantidade de informações importantes (por exemplo, um livro de contas), que ele não poderia memorizar sem erros com a sua memória natural.

Com o fabrico de veículos (que seja bicicleta, automóvel…), o ser humano dotou-se de próteses de pernas que lhe permitem deslocar-se muito mais rapidamente. Com o telefone, ele inventou uma prótese de voz que lhe permite se fazer ouvir a vários milhares de quilómetros de distância.

Finalmente, com a descoberta da vacina, ele aumentou-se biologicamente: um ser humano imunizado contra a raiva ou o tétano é “aumentado” em relação ao ser humano que não possui esta imunidade. O caso da vacina é interessante, já que se trata de um aumento completamente integrado ao nosso corpo… e para alguns, definitivo! Ao contrário dos exemplos precedentes, é esta dimensão de integração no corpo que faz medo a alguns. No entanto, no caso das vacinas habituais, isto é largamente aceite nos nossos dias: mais de 70% da população mundial têm pelo menos uma vacina.

Hoje em dia, com os nossos smartphones e computadores, temos verdadeiros “órgãos artificiais”, que nos acompanham no nosso dia à dia. É certo que não fazem parte do nosso corpo, mas será que mude alguma coisa em termos de funcionalidade? Existe sempre uma simbiose entre o humano e a sua tecnologia. Nós temos medo que esta tecnologia nos tira a nossa identidade. No entanto, se nos tirassem os aumentos listados mais acima (roupa, escrita, ferramentas…), nós nos sentiríamos de repente muito “diminuídos” e despojados da nossa identidade!

Se olharmos para trás, compreendemos que a nossa identidade não é algo de fixo: ela evolui em simbiose com as tecnologias que nós criamos ao longo dos séculos. Os nossos contemporâneos teriam sem dúvida muito mais afinidades com o homem aumentado de um futuro próximo do que com o homem das cavernas!

É tentador ver o ser humano aumentado como sendo uma mudança de paradigma radical (e, portanto, perturbador). Mas esta noção de aumento é na realidade muito mais antiga. Ela é até mesmo constitutiva da natureza humana: o que nos diferencia dos animais não será mesmo esta nossa grande capacidade em nos “aumentar” pela técnica, mesmo que seja rudimentar?

A mudança é muitas vezes percebida como uma ameaça à nossa identidade. E se a nossa “identidade humana”, a nossa natureza profunda, era precisamente a mudança?

Artigo original da autoria de Alexandre, publicado com o título “Nous sommes des humains augmentés… depuis des siècles !


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