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A favor de um transhumanismo “open source”

transhumanismo “open source”

Monopólio, controlo, espionagem… para evitar estes problemas e tornar as tecnologias acessíveis à maioria, temos todo interesse em desenvolver um transhumanismo “open source”. Veja porquê.

Publicado em 30 Março 2017

Nas obras de ficção, o transhumanismo é muitas vezes inscrito num futuro distópico dominado pelo dinheiro e as multinacionais.

Obviamente, os universos distópicos são mais propícios para as ficções do que os universos utópicos. No entanto, vejamos estas histórias de mais perto: qual é a dimensão “distópica” que o transhumanismo tem nestas ficções?

  • Um exemplo clássico é o das próteses onde descobrimos a um dado momento do enredo que tinham um chip permitindo o seu controlo à distância. Indivíduos mal-intencionados usam-nos então para desativar as próteses ou tomar o seu controlo.
  • Outro exemplo é aquele da grande multinacional que inunda o mercado com as suas tecnologias, tornando as pessoas dependentes. Depois, aproveitando esse monopólio, aumenta brutalmente os preços, as pessoas não tendo outra escolha do que pagar.

No entanto, tais enredos são poucos prováveis no caso de um transhumanismo “open source”. Vamos tentar explicar porquê.

O que é o open source?

Tomamos um exemplo clássico: os sistemas operativos.

Toda a gente conhece Windows. Os seus utilizadores sabem servirem-se dele sem dificuldades. Por outro lado, o funcionamento interno do Windows é uma “caixa negra”: só os engenheiros da Microsoft sabem como ele é concebido, e só eles podem fazer modificações. Em relojoaria, o Windows seria o equivalente de um relógio que não poderia ser aberto: podemos utilizar para ler as horas, mas não podemos a desmontar ou concertar nós próprios.

Ao invés, sistemas operativos como Linux ou Android são “open source”: o código com o qual foram concebidos (“source”) é publico e acessível a todos (“open”). Qualquer pessoa que têm as competências suficientes pode saber como o Linux ou o Android funcionam, e se for preciso, modifica-los. Em relojoaria, isto corresponderia a um relógio que pode facilmente abrir-se e desmontar, cujo plano de fabricação foi fornecido de graça.

Isto têm dois interesses maiores:

Um software open source é por essência gratuito, visto que o seu código fonte é publico na Internet [1]. A existência de softwares gratuitos e transparentes de qualidade (como o browser Firefox) mete uma pressão positiva nos softwares pagos: eles não podem “fazer pior”, porque senão, os utilizadores iriam para o equivalente gratuito.

Um software open source é transparente: é muito mais difícil dissimular uma porta de entrada escondida (por exemplo um software espião utilizado por um governo). Além disso, qualquer pessoa pode encontrar bugs e propor uma correção. A prática mostra que a comunidade Linux (benévola) é muito mais reativa em relação à correção de bugs do que as equipas da Microsoft.

Open source e transhumanismo

Se o conceito do open source foi popularizado no domínio informático, não lhe é de todo exclusivo. Podemos em particular transpor esse conceito às tecnologias do transhumanismo:

  • No plano médico (fornecer a “receita” do remédio, que qualquer um poderá livremente recriar
  • No plano genético (explicar que modificações foram feitas no ADN)
  • No plano prostético (fornecer os planos de fabrico das próteses, tal como o código fonte do software informático).

A dimensão transparente (os planos de fabricação são públicos) impede o exemplo do “chip de controlo à distância” dado mais acima: num sistema open source, é difícil esconder um elemento assim. E a dimensão gratuita impede uma multinacional gananciosa de vender “caixas negras” a preços proibitivos (como este remédio para doentes da Sida cujo preço aumentou em 5500%): cada um pode recriar o produto a um preço razoável.

Um produto open source não é necessariamente produzido pelos seus utilizadores: uma empresa pode encarregar-se da produção. Mas ela não pode explorar financeiramente a exclusividade de um qualquer “segredo de fabrico”, e o preço de venda é assim muito mais próximo do custo real de fabrico. É por exemplo o caso dos medicamentos genéricos. Além disso, os custos de fabrico também podem cair brutalmente para certas tecnologias:

  • Em genética, a técnica CRISPR/Cas9 permite editar um ADN com precisão molecular a muito baixo custo.
  • No domínio das próteses, a impressão 3D abriu todo um campo de aplicação: é possível fazer download e imprimir uma prótese em casa.

Em cada domínio, a existência de produtos “open source” garante um largo acesso e a baixo custo para a maioria. Isto permite pressionar positivamente as empresas que não podem propor algo de “menos bom”. E no caso do transhumanismo, o open source é uma excelente proteção contra as hipóteses distópicas descritas em algumas obras de ficção. É portanto essencial apoiar e encorajar o open source.

Notas

[1] podemos obviamente modificar este código fonte, compila-lo para fazer dele uma “caixa negra” e vendê-lo. No entanto, programas com a licença GNU GPL proíbem isso: qualquer produto derivado de um programa com esta licença deve ser obrigatoriamente open source (o contrário sendo punível por Lei). é um verdadeiro “copyright invertido”, impedindo qualquer forma de copyright subsequente. Outras licenças, como as da família BSD, autorizam os produtos derivados que não sejam open source.

Artigo original da autoria de Alexandre, publicado com o título “Pour un transhumanisme « open source »


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